O Cerrado não costuma revelar seus mistérios a quem não vive em suas paisagens. Há quem diga que os interiores da região central do Brasil guardam segredos e que é por isso que o Bioma mais antigo do país ainda é pouco conhecido. Longe dos campos e chapadões, é difícil encontrar quem conheça as riquezas do Cerrado, a savana mais biodiversa do mundo.
Até a própria Constituição Federal parece saber pouco do Bioma. No artigo 255, que declara o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, aparece Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica. Nada de Cerrado.
Quando se pensa em desmatamento, degradação ambiental ou fogo, o Cerrado custa a ser lembrado, mesmo que seja o Bioma que hoje desaparece com maior rapidez. Recentemente, foi incluído na lista internacional O Cerrado é um hotspot global de conservação. Os hotspots são áreas cuja preservação é considerada prioridade em razão de elevadas ameaças de extinção. A definição foi criada pelo ecológo inglês Norman Myers e atualmente é amplamente utilizada por ecologistas. No Brasil, há dois hostspots para conservação: o Cerrado e a Mata Atlântica. de áreas prioritárias para a conservação ambiental, mas segue meio esquecido.
Célia pertence a uma etnia indígena que já foi considerada extinta. Mas que atualmente é a mais populosa da Minas Gerais. A história dos Xacriabá se mistura com as origens da devastação do Cerrado brasileiro
Lucely é especialista na medicina das plantas. Retira os ingredientes para cura da savana mais biodiversa do mundo. No cerrado goiano, farmácias populares e o conhecimento das raizeiras mantêm o bioma de pé.
Na última fronteira agrícola, jagunços e tratores ameaçam comunidades. Claudia é uma testemunha do cotidiano de incerteza e medo que ronda os rincões do Matopiba.
No estado líder do agronegócio, as mudanças climáticas apertam e a vida na natureza pede reinvenção.Tsitsina Xavante ajuda a fortalecer seu povo unindo conhecimentos tradicionais e técnicas de gestão.
As mulheres unem-se para resistir onde a vegetação está sumindo rapidamente. Rosalva é uma jovem quebradeira de coco babaçu que faz de sua vida uma luta pelo bem viver.
Comunidades tradicionais sofrem com miséria e grilagem de terras. Lusineide é uma jovem liderança comunitária que vive na pele a desigualdade produzida pela monocultura de soja
Para garantir que o Cerrado continue de pé, seus guardiões se articulam na Rede Cerrado, movimento que influencia políticas públicas, fortalece os modos de vida tradicionais e informa a sociedade sobre o bioma
Em um assentamento da reforma agrária, técnicas sustentáveis geram renda. Preta conta como a agricultura familiar avança quando há formação e apoio técnico, no estado marcado pela monocultura
No oásis do Jalapão, Ana Mumbuca conta sobre o viver quilombola. Técnicas centenárias de agricultura enfrentam o ressecamento do bioma. Mas uma experiência sustentável traz esperança
Nas terras mais desenvolvidas, caras – e devastadas– do país, o Cerrado quase sumiu. Em São Paulo apenas 1% do bioma resiste.
Na parte mais ao Sul, restam pequenos fragmentos de Cerrado. Nas bordas do Paraná, os campos de araucárias se misturam com resquícios de espécies nativas da savana brasileira.
- Terras Indígenas
- Unidades de Conservação
- Rios
- Limites de UF
Talvez, porque as joias ameaçadas do Cerrado não estão visíveis, expostas na superfície, tal qual uma floresta tropical. Ao contrário, as maiores riquezas da savana brasileira estão no subterrâneo: da terra e das pessoas. Debaixo do solo, o Bioma guarda mananciais de água. Cerca de 40% de toda a água doce que abastece o Brasil. Já nas profundezas das pessoas, o Cerrado conserva conhecimentos seculares: jeitos de curar com plantas, formas de cultivo sustentável e maneiras de se viver integrado à natureza.
Nesta série de reportagens, com um capítulo para cada estado do Bioma, conheça histórias de disputas, colheitas e sabedorias que fazem florescer a vida mesmo sob ameaça. Do Nordeste ao Centro-oeste, comunidades rurais persistem em um estilo de vida baseado na proteção e cuidado com o Cerrado. Entenda como o Bioma mais ameaçado do Brasil resiste. Em água, frutos e gente.
Uma iniciativa da Rede Cerrado e do WWF-Brasil que juntos lançaram em junho de 2020 a campanha Cerrados.