O mês de setembro de tom laranja amarronzado típico da seca do Cerrado sempre nos convida a falar sobre este que é o bioma mais antigo do Brasil (existe há mais de 65 milhões de anos). As raízes de tão profundas contorcem os troncos curtos da savana mais biodiversa do mundo. Em 11 de setembro, celebramos o Dia Nacional do Cerrado e, ao contrário de tudo que foi contato para gente ao longo da história, o Cerrado é um lugar cheio de vida e de sociobiodiversidade. Sabe por quê?
Então, sabe aquele discurso de que o Cerrado é um lugar hostil, vazio e desfavorável à vida. É exatamente o inverso: o Cerrado é um bioma diverso, fértil, rico e produtivo. Muito produtivo. E não estamos falando da produção de soja.
Baru, Babaçu, Buriti, Jatobá, Macaúba, Coquinho azedo, Cajuzinho do Cerrado, Mangaba, Cagaita, Maracujá Nativo, Umbu, Cajá, Jabuticaba, Capim Dourado, Pimenta de Macaco, entre tantos outros. A produção da sociobiodiversidade vem ganhando o mundo. Além de gerar trabalho e renda para milhares de produtores extrativistas, contribui diretamente para a manutenção do Cerrado em pé (quase metade do bioma já foi desmatado) e a com a conservação do meio ambiente.
Conheça a cadeia produtiva do Baru
Somente a Central do Cerrado, uma das mais de 50 entidades associadas à Rede Cerrado, congrega 21 organizações comunitárias de 9 estados. Juntas, representam cerca de 5 mil famílias produtoras que se organizam em cooperativas e associações de produção. Isso representa mais de R$ 1,5 milhão de faturamento anual. A comercialização é feita em diversos canais que vão desde a venda direta em lojas físicas instaladas em São Paulo (SP) e Brasília (DF), a loja virtual própria e marketplaces como o da Americanas.com e Mercado Livre.
Fabrícia é uma coletora de sementes nativas do Cerrado. Depois de sofrer com a falta de água em sua região, ela e outros moradores da comunidade Roça do Mato se uniram. Juntos, estão replantando o Cerrado no norte de Minas Gerais. Essa história foi contada no podcast Cerrados. Para ouvir, clique aqui!
Entre a casca e o tronco aparece um remédio. Lucely Pio conhece as folhas, as raízes e até as entrecascas das espécies nativas do Cerrado. Seu ofício é curar dores e doenças com os ingredientes da farmácia viva que cerca sua comunidade. Ela vive em Goiás e seu quintal é a savana mais biodiversa do mundo.
Lucely é da quinta geração de descendentes que resistem e mantêm vivas as tradições da Comunidade do Cedro. “A gente conseguiu segurar até nos dias de hoje a atividade que é: cuidar das pessoas com as plantas medicinais”, conta.
O conhecimento passado de geração em geração garantiu à comunidade e à Lucely o reconhecimento como referência nacional na utilização de plantas medicinais. Hoje, o laboratório caseiro da Comunidade do Cedro produz remédios a partir de 450 espécies nativas diferentes, catalogadas e com seus usos descritos. As curandeiras da comunidade criaram o laboratório em 1997. De lá para cá, formularam cerca de 90 medicamentos.
Um conflito por terra. Discordância, aflição, tabu. Mas encontros de mulheres fortalecem toda a comunidade. As Bordadeiras Retireiras do Araguaia costuram as sabedorias de viver nas margens de um dos maiores rios do Cerrado. Mulheres que unem conversa, proteção ambiental e luta pelo território tradicional no Mato Grosso.
Além disso, um movimento de mulheres negras que há mais de 30 anos transforma realidades no cerrado nordestino. As quebradeiras de coco babaçu mudam leis, constroem políticas públicas, revolucionam o ambiente político. Rosalva conta como trabalham para melhorar a qualidade de vida nos interiores do Maranhão, Piauí, Bahia e Tocantins.