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Falta d’água: desmatamento no Cerrado atinge principais regiões hidrográficas do Brasil

19 de janeiro de 2022 - Cerrado - Com informações do IPAM Amazônia

Cientistas do IPAM realizaram a análise com base nos dados do Prodes e alertam que o desmatamento no bioma pode comprometer segurança hídrica do país

De acordo com análise realizada por pesquisadores do pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), entidade associada à Rede Cerrado, o desmatamento no Cerrado – entre agosto de 2020 e julho de 2021 – se concentrou em duas das principais regiões hidrográficas do Brasil: Tocantins-Araguaia e São Francisco. Juntas, perderam 56% da vegetação nativa, o que representa mais de 4,8 mil km², dos mais de 8,5 mil km² desmatados no bioma no período.

A bacia do Rio Tocantins foi a mais afetada: acumulou 23% do total (1.961,13 km²), uma área maior que a capital do Maranhã, São Luís. É seguida pelas bacias do Médio São Francisco, que responde por 15,9% (1.356,65 km²) do total suprimido, e a do Araguaia, com 15,7% (1.336,5 km²).

Pesquisadores do IPAM realizaram a análise com base nos dados do Prodes, sistema de monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), após notícia sobre possível desmobilização, por falta de verba, de equipe que monitora o Cerrado.

“O monitoramento das condições da cobertura e uso do solo nas bacias hidrográficas do Cerrado é essencial para a gestão de recursos hídricos e para a elaboração de estratégias adequadas de restauração de paisagens funcionais”, alerta Mercedes Bustamante, presidente do Conselho Deliberativo do IPAM e professora da UnB (Universidade de Brasília).

As três bacias – do Tocantins, do Araguaia e do São Francisco – guardam 47% (456,25 mil km²) de toda a vegetação nativa remanescente no bioma. Segundo o mapeamento do Prodes, mais da metade da vegetação nativa do Cerrado – 51% ou 1,01 milhão de km² – já foi desmatada.

Desmatamento e agropecuária

As regiões hidrográficas do Tocantins-Araguaia e do São Francisco são responsáveis por metade (48,6%) do aumento de área da agropecuária no Cerrado. É o que mostra a série histórica da iniciativa MapBiomas, que analisa, entre outras problemáticas socioambientais, a conversão do solo entre 1985 e 2020.

Tocantins-Araguaia:
– 86 mil km² de áreas convertidas
– 99,6% destinadas à pastagem e agricultura
– diminuição de 10,4% (1.530 km²) da superfície natural de água

São Francisco:
– 43 mil km² de áreas convertidas
– 77,4% destinadas à pastagem, agricultura e silvicultura
– diminuição de 47% (1.260 km²) da superfície natural de água

Crise hídrica

“São áreas produtoras de água que, uma vez convertidas desordenadamente em agricultura, consomem e esgotam os recursos hídricos regionais”, alerta o pesquisador do IPAM no MapBiomas, Dhemerson Conciani.

Ele ainda destaca que os sucessivos recordes de desmatamento na região e dados históricos sobre a diminuição da superfície natural de água mostram que essa conta não fecha. “Além dos impactos à biodiversidade e ao bem-estar humano, a própria produtividade agrícola e a geração de energia hidrelétrica também sofrerão as consequências no médio prazo”, complementa.

Foto: Rosilene Moliotti/FASE

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