Representantes de vários segmentos de povos e comunidades tradicionais de todo o Brasil, além do governo federal e organizações da sociedade civil, entre elas a Rede Cerrado, estiveram reunidas nos últimos dias 21 e 22 de novembro, em Brasília, para o Seminário Extrativismo: Políticas Públicas de Fortalecimento de Povos Indígenas e Povos e Comunidades Tradicionais.
Promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), o evento teve como objetivos fazer um balanço dos dez anos do Programa de Apoio ao Agroextrativismo e aos Povos e Comunidades Tradicionais PNUD/BRA/08/012), identificar agendas e estratégias comuns entre os povos que não podem deixar de serem trabalhadas nos próximos anos e promover a troca de experiências relacionadas à gestão ambiental e territorial e o uso sustentável da sociobiodiversidade.
Fruto de uma parceria entre a cooperação internacional com o governo do Brasil, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o programa possibilitou o aporte de recursos e conhecimentos técnicos, além de articulações políticas tendo em vista a garantia, a construção e a implementação de políticas públicas voltadas ao agroextrativismo, em especial, para povos e comunidades tradicionais (PCTs).
“O momento é de alegria por finalizarmos um projeto, mas também é de tristeza, pois este era um programa que viabilizava e garantia a participação dos povos e das comunidades tradicionais nas discussões de políticas públicas. Queremos um novo projeto de cooperação, com objetivos semelhantes e que apoie os PCTs da maneira que eles desejam”, destacou Juliana Simões, secretária de Extrativismo e Desenvolvimento do Ministério do Meio Ambiente.
Mário Nicácio, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), ressaltou a importância das ações do projeto, como o Programa Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI). Com o apoio do projeto, foram realizadas cinco consultorias regionais e a proposta do PNGATI foi apreciada e aprovada pela Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), sendo, então, encaminhada para a Presidência da República. Em 5 de junho de 2012 foi publicado o Decreto n° 7.747 que instituiu o programa.
“A discussão da gestão territorial é discutir sobre as nossas vidas. É onde brotam as águas, é onde está a natureza mais conservada. Os territórios que brotam vida e vida que dá vida para todo mundo. Além de brotar vida, nossos territórios são sagrados”, disse Denildo Rodrigues, o Bico, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Para ele, as políticas públicas começam a chegar aos territórios, todavia, muitas vezes, de forma desordenada. “É preciso coordenar a chegada dessas políticas. O nosso direito a terra está totalmente ameaçado. Ele não avançou com a mesma velocidade em que os empreendimentos chegam aos nossos territórios”, salientou.
Durante o primeiro dia do Seminário, além das mesas e dos grupos de trabalho, houve, também, o lançamento do vídeo “Caminhos para Gestão Ambiental e Territorial Quilombola”, produzido a partir de várias oficinas realizadas em todas as regiões do país em 2018.
Divididos em três grupos de trabalho, que debaterem seis temas distintos durante os dois dias, os participantes identificaram os principais avanços e desafios das políticas públicas voltadas, essencialmente, aos povos e as comunidades tradicionais no que diz respeito, por exemplo, à gestão territorial e ambiental, produção sustentável e acesso aos mercados.
Dentre os avanços, foram destacados diferentes pontos, como o fortalecimento das ações direcionadas à agroecologia, à agricultura familiar e ao extrativismo para indígenas, quilombolas e segmentos de PCTs, além dos agricultores familiares que trabalham com o extrativismo, a criação de protocolos comunitários, da cartografia social e a alavancagem de processos participativos e construções coletivas. O arranjo de diferentes políticas públicas que são complementares entre si também foi ressaltado como um grande passo no fortalecimento dos povos e das comunidades tradicionais nos últimos anos.
Comparados com os avanços, os grupos identificaram mais que o dobro de desafios que precisam ser enfrentados. A falta de acesso à terra, dificuldades de documentação para acessar programas como o Programa de Aquisições de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a regularização fundiária, além do avanço do agronegócio em Territórios Tradicionais foram algumas das principais dificuldades encontradas pelos povos e comunidades tradicionais de todo o Brasil.
Atuar em rede e estabelecer uma agenda comum entre os povos foram algumas das estratégias apontadas para o fortalecimento dos PCTs na luta, destacando como uma das estratégias o fortalecimento da Aliança da Sociobiodiversidade. Além disso, a ampliação do diálogo com a cooperação internacional foi evidenciada como uma forma de garantir os direitos e os territórios de povos e comunidades tradicionais em todo o Brasil.