A principal ameaça à biodiversidade do Cerrado é o desmatamento. E a maior parte da cobertura vegetal original ainda restante tem sido alvo de vários tipos de interferência. Nas últimas cinco décadas, o bioma tem sido a principal área de expansão agrícola e consolidação do agronegócio brasileiro, levando à perda de metade da cobertura vegetal original deste hotspot – ecossistema único e ameaçado. Nesta conjuntura, o Cerrado que é considerado um dos biomas mais ameaçados do nosso planeta, ilustra muito bem os desafios e oportunidades de conciliar desenvolvimento econômico com conservação dos ecossistemas terrestres e aquáticos.
Neste artigo intitulado “Promoção da governança e conservação dos recursos hídricos no Cerrado”, que foi publicado na revista científica Conservation Science and Practice, os pesquisadores de Singapura, Estados Unidos, Brasil e Alemanha avaliaram o estado da arte e apresentaram novas informações sobre os impactos da expansão agrícola, represas e uso da água no Cerrado. A partir destas informações, o grupo fez recomendações para o manejo, conservação e restauração das bacias hidrográficas e ecossistemas do Cerrado que estão diretamente relacionados à água.
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De acordo com os pesquisadores, “a conservação do Cerrado exige, não apenas a conservação de remanescentes de sua vegetação, mas também a capacidade de manter a funcionalidade hidrogeomorfológica e ecológica de seus rios, particularmente o rio Araguaia, o último grande sistema bem preservado”. O grupo conclui seu trabalho ressaltando que se mantivermos este modelo usual de desenvolvimento no Cerrado, que já vem sendo implementado há décadas, os ecossistemas ribeirinhos do bioma possivelmente nunca se reestruturem novamente.
Um dos autores deste trabalho e pesquisador da Universidade Federal de Goiás, Dr. Manuel Ferreira, vem trabalhando com uma equipe de pesquisadores e instituições da sociedade civil no projeto “Plataforma de Conhecimento do Cerrado”. O projeto é executado pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) e conta com o apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês para Critical Ecosystem Partnership Fund) e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e visa compartilhar dados, informações e conhecimento entre as várias partes interessadas no Cerrado e empoderar a sociedade civil, por meio de informações confiáveis e ferramentas de monitoramento dos ecossistemas do Cerrado.
O Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) está vinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás (UFG). As suas atividades foram iniciadas em 1994 e contribuíram desde então com a elaboração de diversas monografias, dissertações e teses, além da oferta de disciplinas de sensoriamento remoto, cartografia digital e sistemas de informações geográficas. Em 2010, deram início aos “Geocursos”, um projeto de extensão que oferta cursos de curta e média duração no âmbito das geotecnologias, oferecidos para a comunidade em geral. A pesquisa configura‐se como uma importante frente de atuação com vistas à produção e/ou organização de dados geográficos e documentais voltados ao monitoramento territorial e ambiental dos biomas brasileiros e respectivas paisagens naturais e antrópicas.