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Cerrado: territórios, diversidades e democracia

12 de setembro de 2019 - IX Encontro e Feira Povos do Cerrado - Luana Campos, coletivo de Comunicação IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado

Temas foram debatidos no primeiro dia do IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado que começou em Brasília nessa quarta-feira, 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado, e segue até sábado, no Complexo Cultural Funarte

Teve início nessa quarta-feira, 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado, em Brasília (DF), o IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado. A abertura oficial do evento ocorreu no Teatro Funarte Plínio Marcos Funarte e contou com a presença de representantes de povos e comunidades tradicionais do Cerrado, além de autoridades.

Foto: Acervo ISPN/Méle Dornelas

A quebradeira de coco e coordenadora geral da Rede Cerrado, Maria do Socorro Teixeira Lima, deu início a solenidade homenageando Maria de Jesus, conhecida como Dona Dijé, grande liderança e importante figura na luta pelos direitos de povos e comunidades tradicionais, que faleceu ano passado.

Para Maria do Socorro, a realização deste encontro é uma grande conquista para a Rede Cerrado, já que sua última edição aconteceu em 2014. “Hoje, mesmo diante dos grandes desafios do momento político, com a ajuda de diversas organizações e parceiros, conseguimos chegar a esse momento”, destacou com grande alegria.

Com o tema: Pelo Cerrado Vivo: diversidades, territórios e democracia, o IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado chama a atenção para as ameaças enfrentadas pelo Bioma. A invisibilidade do desmatamento que atinge mais de 50% de todo território foi um dos assuntos comentados durante a abertura.

“Se continuar nesse ritmo daqui 50 anos só vai sobrar Unidades de Conservação e territórios indígenas. A gente não quer isso! A gente pode ocupar o Cerrado de forma inteligente, protegendo nossa biodiversidade, nossas águas e nossos povos”, afirmou César Victor, membro da coordenação da Rede Cerrado, durante o debate. Ele destacou a necessidade de políticas públicas para o frear a devastação no território.

O secretário de Meio Ambiente do Distrito federal, José Sarney Filho, esteve presente na ocasião e reafirmou a importância dos povos e comunidades tradicionais enquanto “os protetores do que ainda resta do Cerrado”. O secretário falou ainda sobre a necessidade de uma moratória da soja para contenção do desmatamento no Cerrado, a exemplo do que foi feito na Amazônia.

De acordo com Jaime Siqueira do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), a realização do Encontro e Feira dos Povos do Cerrado não é apenas importante, mas necessária, “por este ser um espaço de discussão e articulação conjunta em defesa dos povos indígenas e populações tradicionais que vivem no Bioma”.

Lideranças importantes da luta pelo Cerrado em pé, como o geraizeiro Braulino Caetano, diretor do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM) e a quilombola e raizeira Lucely Morais Pio, representante do DGM Brasil, compartilharam suas experiências e o significado do Cerrado em suas vidas.

Durante a abertura do evento o projeto Brasília Ambiental lançou o site Eu Amo o Cerrado. A iniciativa de educação ambiental fomenta o conhecimento de parques, trilhas e Unidades de Conservação do Bioma, localizados no Distrito Federal. Na ocasião, houve também o lançamento do livro “Chapada dos Veadeiros”, de André Dib.

Importância dos povos para a conservação do Cerrado

Indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, geraizeiros, ribeirinhos, a diversidade que tomou conta do palco da Funarte à noite era a mesma que horas mais cedo lotou o Auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados do Congresso Nacional, para o seminário sobre a importância dos povos e comunidades para a preservação do Cerrado.

“Hoje o fogo está afetando nossas comunidades pois é onde sobraram árvores. No resto o agronegócio já passou derrubando”, lamentou Lidiane Taverny Sales, membro do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais.

A ida ao Congresso foi também o momento da entrega de uma petição com mais de meio milhão de assinaturas pela aprovação da PEC 504/2010, que transforma o Cerrado e a Caatinga em Patrimônio Nacional.

“As políticas públicas parecem estar diminuindo e voltamos e ter uma situação muito triste em nossos territórios”, Braulino Caetano dos Santos, geraizeiro, diretor geral do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas.

Clique aqui para assistir ao seminário A importância dos povos e comunidades para a conservação do Cerrado 

Corrida até o Congresso

Pela manhã, o caminho para o congresso não foi numa caminhada comum. Os povos indígenas Xavante, do Mato Grosso, e Timbira, do Maranhão e Tocantins, organizaram a tradicional corrida de toras na qual os corredores dos dois times correm se revezando no carregamento de uma tora que pode chegar a 80 quilos.

Desta vez venceram os Xavante, mas sem se importar com o resultado os membros dos dois times fizeram uma roda e dançaram na chegada em frente ao Congresso Nacional.

Cerrado é cultura

Após a solenidade, o grupo Planeta Oca abriu as apresentações da programação cultural que seguiu em conjunto com a realização da feira com produtos da sociobiodiversidade e os espetáculos de Bumba meu Boi, Jongo do Cerrado e DJ Pati Egito.

Foto: Acervo ISPN/Méle Dornelas

Foto: Acervo ISPN/Méle Dornelas

O IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado segue até o próximo sábado (14) com diversas oficinas, seminários, atrações culturais e feira de produtos trazidos por diversas comunidades do Cerrado brasileiro. Clique aqui para conferir a programação completa. Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público.

Para assistir a abertura do IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, clique aqui.

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