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Babaçu, uma das riquezas do Cerrado com protagonismo feminino

5 de setembro de 2019 - IX Encontro e Feira Povos do Cerrado - Franci Monteles, assessoria de Comunicação da Assema

Do óleo destinado a indústrias de cosméticos, alimentação e fármaco à torta para ração animal, sabonete e farinha de mesocarpo. São vários os produtos e subprodutos da palmeira de babaçu, uma das principais fontes de renda para milhares de famílias de comunidades tradicionais no Maranhão.

Os produtos têm até uma marca: “Babaçu Livre”, uma alusão a décadas de luta e resistência pela conservação e acesso às florestas de babaçuais. Todos eles estarão expostos no IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, de 11 a 14 de setembro, em Brasília. Trabalho que contou com a assessoria técnica da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema), criada há 30 anos pelos agroextrativistas da região do Médio Mearim e que desenvolve estratégias junto a associações e cooperativas voltadas para a conservação e uso sustentável do babaçu e o comércio justo, algumas das quais contam com recursos do Fundo Amazônia.

De acordo com o Manual de Aproveitamento Integral do Fruto do Babaçu, produzido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), as florestas de babaçu cobrem cerca de 196 mil km² do território brasileiro, com ocorrência concentrada nos estados do Maranhão, Tocantins e Piauí, na região conhecida como Mata dos Cocais (transição entre Caatinga, Cerrado e Amazônia). A palmeira também está presente no sul do Pará.

“Do babaçu, tudo se aproveita, da palha à raiz”, diz a quebradeira de coco babaçu, Maria das Dores Vieira (Dora), presidente da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco (AMTR), que produz sabão e sabonete de babaçu. “O sabonete de babaçu é um produto que surgiu pela nossa resistência desde os anos de 1970 para permanecermos no campo e lutar para preservar os babaçuais que estavam sendo devastados. Resgatamos o sabão que nossos pais faziam e criamos o produto para mostrar o valor do babaçu”, relata Maria das Dores. O sabão e o sabonete são produzidos com o óleo da amêndoa do babaçu, produzido por outra organização sócia da Assema, a Coppalj (Cooperativa de Pequenos Produtores (as) Agroextrativistas de Lago do Junco).

A Coppalj produz óleo orgânico certificado pelo IBD. O produto é comercializado para indústrias de cosméticos nos mercados nacional e internacional. Este ano a cooperativa passou a produzir também o óleo refinado, visando atender aos mercados alimentício e fármaco. “Hoje a quebradeira de coco da nossa região pode dizer que quebra o coco e também produz o óleo para alimentação”, afirma o presidente da Coppalj, Ildo Lopes de Sousa. As amêndoas são compradas das quebradeiras de coco babaçu da região, sócias e não sócias da cooperativa, que recebem o pagamento em dinheiro ou trocam por produtos (da cesta básica e ferramentas de trabalho a itens de higiene e beleza) nas cantinas comunitárias da Coppalj. “Antigamente era necessário vender 10 quilos de amêndoa para comprar um quilo de arroz. Na cooperativa, bastam dois quilos de amêndoas para comprar um quilo de arroz”, explica Ildo Lopes, ao destacar que a cooperativa eliminou o atravessador, valorizando o trabalho das quebradeiras de coco babaçu com o aumento da renda, beneficiando mais de 1000 famílias na região. Além do óleo bruto e refinado, a Coppalj também produz e comercializa a torta de babaçu (o bagaço), utilizada na ração animal.

A amêndoa do coco babaçu é o principal produto do qual se extrai o óleo. Porém, outro produto advindo do conhecimento tradicional das mulheres quebradeiras de coco babaçu também é uma importante fonte de renda para as agroextrativistas e conquistou o mercado alimentício e de cosméticos. É a farinha de mesocarpo, que tem na Coopaesp (Cooperativa de Produtores Agroextrativistas de Esperantinópolis), uma das maiores produtoras da região do Médio Mearim. O produto, tradicionalmente utilizado na culinária para produção de bolos, biscoitos e mingaus, inclusive na merenda escolar, também ganhou o mercado da indústria de cosméticos. O mesocarpo é uma camada do coco babaçu que fica entre a casca (epicarpo) e o endocarpo (camada mais rígida) que é triturado e transformado em farinha.

A juventude do Médio Mearim maranhense também encontrou no babaçu inspiração e fonte de renda por meio da produção de biojóias e artesanato. São jovens artesãos filhos e filhas de quebradeiras de coco babaçu, organizados por meio da Associação de Jovens Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues (AJR), também associada da Assema. “É uma produção que valoriza a nossa cultura do babaçu. Este ano queremos aumentar a produção e desenvolver novas peças como bolsas e porta-retratos. Queremos também atrair mais jovens para o processo produtivo para que possam ter renda extra com”, observa a integrante da AJR, Vera Lúcia. Criada em 2002, a AJR tem como objetivo principal organizar e fortalecer a juventude do campo em busca do acesso às políticas públicas de educação.

Como incentivo à cadeia de valor agregado do babaçu, os produtos das organizações e famílias apoiadas pela Assema são de base agroecológica, livres de contaminantes intencionais, comercializados de forma justa visando assegurar renda para os produtores e produtoras agroextrativistas.

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