“As ameaças são muitas. Elas vêm de multinacionais, das plantações de soja, de eucalipto. Vemos grandes pastagens com uma palmeirinha lá no fundo e o gado fica onde? Fica lá embaixo. Não entendemos por que precisam desmatar para produzir”. A fala de Francisca Maria Pereira, do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), organização associada à Rede Cerrado, resumiu a pressão vivida pelos povos e comunidades tradicionais que vivem no Cerrado, a savana brasileira.
Apesar de ser um bioma estratégico para a manutenção da sociobiodiversidade brasileira – já que o Cerrado abriga 5% de toda a biodiversidade do planeta e 30% da do Brasil – ele vem sofrendo com os fortes impactos gerados pelo avanço predatório de grandes empreendimentos.
Desmatamentos e queimadas não prejudicam somente o solo e os rios, mas também diversas comunidades tradicionais, como lembrou César Vitor do Espírito Santo, membro da coordenação da Rede Cerrado. “São mais de 80 etnias indígenas presentes no bioma, além dos quilombolas, trabalhadoras e trabalhadores extrativistas, geraizeiros, vazanteiros, quebradeiras de coco, ribeirinhos, pescadores artesanais, barranqueiros, fundo e fecho de pasto, sertanejos, ciganos, entre tantos outros. Então, falar que o Cerrado é vazio é mentira. Pelo contrário, ele é rico, fértil e muito diverso”, destacou.
Uma sociobiodiversidade que viu quase a metade da vegetação nativa ser destruída nos últimos anos. De acordo com Anne Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), também associada à Rede Cerrado, dados do MapBiomas mostram que restam 54% de vegetação nativa no bioma, sendo parte dela regenerada. “Estimamos que 5% desta vegetação nativa já é secundária, ou seja, sofreu um processo de regeneração. Então, apenas 48% do Cerrado ainda não foi convertido. As conversões ocorreram principalmente para o uso de pastagens e para a agricultura, em especial para o plantio da soja”. Com relação às queimadas, em 2020, o Cerrado recebeu 7.628 alertas, o que representa 10% de todos os alertas do Brasil, sendo que 99,5% tinham indícios de ilegalidade.
A mesa de diálogos Oportunidade e Ameaças no Cerrado foi promovida pela Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista de Meio Ambiente (Ascema) na noite dessa terça-feira, 28 de setembro. Assista na íntegra: