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Seminário debate estratégias para defesa do Cerrado em Brasília

13 de setembro de 2019 - IX Encontro e Feira Povos do Cerrado - Bruno Santiago, da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado

Evento fez parte da programação do IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado

O Seminário ‘’Cerrado: qual defesa queremos?’’ foi realizado no dia 12 de setembro reunindo mais de trezentos participantes no Complexo Cultural Funarte em Brasília. Integrado às atividades do IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, promovido pela Rede Cerrado, o evento contou com a participação de pesquisadores, representantes dos povos e comunidades tradicionais, de organizações sociais e de entidades que atuam em defesa da sociobiodiversidade do bioma.

A abertura das atividades ficou por conta do professor Donald Sawyer, assessor do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), que apresentou um panorama geral da savana brasileira. Sawyer destacou a urgência de se pautar a conservação do bioma em nossa sociedade, enfatizando ‘’que o desmatamento do Cerrado pode ser menor do que o da Amazônia em termos absolutos, mas com certeza é maior em termos acumulados, uma vez que mais da metade de sua vegetação nativa já foi destruída’’.

‘’Mais do que conservação, precisamos de convivência com a natureza’’, afirma Donald, apontando para a importância dos povos e comunidades tradicionais em qualquer estratégia de defesa do bioma. Segundo o professor, estas populações contribuem diretamente com a conservação do Cerrado tornando as terras produtivas, colaborando com a recuperação de áreas degradadas e preservando os remanescentes de vegetação nativa, nascentes de rios e a biodiversidade.

Dados sobre o Cerrado e os Povos

Após a fala de abertura, a primeira mesa de debate foi composta apresentando a temática ‘’Dados sobre o Cerrado e os Povos’’. Anne Alencar, do MapBiomas, Francisco Rocha, da Comissão Pastoral da Terra do Piauí, Laura Ferreira, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e Maria do Socorro, do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) e coordenadora geral da Rede Cerrado, fizeram parte da primeira rodada de exposições.

A Savana brasileira abriga 19% da vegetação nativa do Brasil, que representam 56% da vegetação nativa do Cerrado. Esses e outros dados podem ser encontrados no site do MapBiomas, uma plataforma gratuita que apresenta de maneira interativa dados sobre biomas brasileiros. ‘’O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e da América do Sul, porém, é o bioma mais ameaçado em nosso país’’, destaca Anne Alencar, que também enfatizou que o bioma possui hoje 40% de seu território destinado para fins agropecuários.

Outra importante ação para a percepção territorial e defesa do bioma é a presença junto aos povos e comunidades tradicionais. É o que experimenta cotidianamente a Comissão Pastoral da Terra, representada na mesa por Francisco Rocha, mais conhecido como ‘’Franzé’’. ‘’Se hoje ainda existe Cerrado em pé, é porque existem os povos e comunidades da terra’’, ressalta.

Franzé compartilhou as vivências e dados alarmantes sobre a conjuntura de conflitos no campo no estado do Piauí. ‘’Trinta e seis conflitos aconteceram em nossas terras piauienses em 2018, com mais de 5 mil pessoas envolvidas. Dezoito destes conflitos aconteceram no Cerrado’’, destaca.

‘’O Cerrado não é apenas o nosso alimento, mas a garantia de sustentabilidade para as nossas vidas. É o ar que a gente respira e a água que bebemos’’, partilha Laura Ferreira, da CONAQ, que chamou a atenção do público para a situação das comunidades quilombolas no Cerrado e no Brasil. ‘’Somos 3.386 comunidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Mais de 6 mil quilombos no Brasil e um total de 16 milhões de quilombolas em nosso país’’, enfatiza.

Encerrando os colóquios, a quebradeira de coco Maria do Socorro, coordenadora-geral da Rede Cerrado e integrante do MIQCB, foi didática ao apresentar aos participantes aspectos que ajudam a compreender o que se passa no Cerrado. ‘’Se de um lado observamos o projeto de morte, do agronegócio, do desmatamento, das queimadas e do envenenamento de nossas águas, do outro temos nós, o projeto de vida, as guardiãs e guardiões do Cerrado, que resistem e defendem o bioma’’, destaca.

Durante as intervenções do público, o líder indígena Cacique Raoni Meturike se dirigiu ao centro do auditório para deixar sua mensagem. ‘’Nossos ancestrais foram os primeiros habitantes dessa terra, que não tinha branco. Quero falar para todos, deixar bem claro: não tinha branco destruindo a floresta desse jeito que eles estão fazendo’’, afirma.

Raoni também convocou o público a se organizar em defesa dos biomas e dos povos e comunidades tradicionais do Brasil, criticando duramente o presidente Jair Bolsonaro e a política ambiental do atual governo. 

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