As principais ameaças para a produção de baru e os desafios enfrentados pelas comunidades extrativistas na comercialização norteiam a 1ª Oficina para o Comércio Justo e Solidário da Cadeia do Baru, durante o IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, que reúne mais de 500 representantes de povos e comunidades tradicionais do bioma, na FUNARTE, de 11 a 14 de setembro. O objetivo do encontro organizado pela Rede Cerrado é chamar a atenção para as ameaças enfrentadas pelo Berço das Águas.
A oficina é financiada pelo Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF) Cerrado, uma iniciativa conjunta da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, União Europeia, Gestão Ambiental Global, Governo do Japão e Banco Mundial. Na programação está garantida a participação de atores como varejistas, compradores, produtores, intermediários, organizações governamentais e não-governamentais para a construção de uma visão compartilhada de comércio justo e sustentável da cadeia do baru.
Por que o baru é difícil de ser encontrado no grande comércio? Qual organização é necessária para que as Comunidades Tradicionais façam negócios com as grandes marcas de varejo? De que forma é possível ter uma relação de proximidade seguindo regras e princípios básicos de comercialização? Essa e outras questões em torno do baru, a castanha do Cerrado, serão dialogadas na oficina que acontece no dia 12 de setembro, das 8h30 às 17h30, no gramado da FUNARTE.
O evento com entrada franca é organizado pela Cooperativa COPABASE, que apresenta um expressivo trabalho em torno da coleta e do beneficiamento do fruto do Cerrado que figura entre as castanhas brasileiras mais difundidas do país. Na última safra, em 2018, foram beneficiadas 10 toneladas da castanha do Cerrado. A expectativa é que a próxima safra atinja a marca de 15 toneladas da castanha.
“O baru não é apenas um bem econômico que gera renda para as famílias extrativistas, mas um produto que gera autonomia e resgate da autoestima dos agricultores familiares extrativistas. O objetivo da cooperativa é manter as famílias no campo, de forma sustentável, contribuindo com o meio ambiente, ao mesmo tempo oportunizando a geração de renda. Neste encontro vamos destacar os princípios de comércio justo que devem ser praticados entre as indústrias de alimentos, agricultores e extrativistas.”, afirma Dionete Barbosa, coordenadora técnica da COPABASE.
As adaptações das cooperativas ao mercado e possíveis soluções também serão discutidas entre os participantes da oficina. “Um dos maiores desafios da cadeia comercial do baru é que o produtor rural gere produtos a partir desse ingrediente da sociobiodiversidade. Sem dúvida, isso é um diferencial para chamar a atenção do consumidor”, afirma o mestre em Ciências Florestais da UnB e professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (campus Arinos), Gabriel Müller Valadão.
Entre as atividades da programação está a Roda de Conversa com Fabrício Ribeiro, sócio da empresa LABRA, que conta a história da marca com a comercialização do baru junto à agricultura familiar e comunidades locais. O negócio exporta a castanha para países como Estados Unidos e Canadá. “As empresas precisam entender o importante papel das cooperativas, dos assentados e dos quilombolas para o Cerrado. Sem essas comunidades não existe a preservação do baru”.
Presença confirmada na oficina, a chef de cozinha Ana Paula Boquadi, do restaurante Buriti Zen, está entre os profissionais de gastronomia que têm o baru entre os ingredientes utilizados no cardápio. “O segmento gastronômico deve fortalecer a cultura alimentar do Cerrado e valorizar o os saberes tradicionais dos agricultores extrativistas. Utilizar esses ingredientes de forma sustentável e remunerar de forma justa esses agricultores são iniciativas que ajudam a manter nosso bioma em pé”.