Durante a COP30, em Belém (PA), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) lançou, em 11 de novembro, o Prospera Sociobio — programa que transforma as diretrizes do Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia (PNDBio) em ações concretas nos territórios, com foco em povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares.
“O Prospera Sociobio é resultado programático de anos de luta e de meses de trabalho árduo, com uma contribuição fundamental dos povos originários e das comunidades tradicionais para sua concepção e até para sua implementação”, explica Mayk Arruda, assessor institucional da Central do Cerrado e conselheiro da Rede Cerrado, que participou da construção do programa.
Segundo ele, a participação dessas comunidades, protagonistas de todo o processo, é indispensável para pensar soluções para a sociobioeconomia brasileira.

Apesar de os primeiros recursos — uma parceria de R$ 120 milhões — estarem destinados à criação de seis Núcleos de Desenvolvimento da Sociobioeconomia na Amazônia, especialistas e representantes da sociedade civil veem o programa como uma oportunidade histórica para que a sociobioeconomia também “abrace” o Cerrado e todos os demais biomas brasileiros.
A secretária-executiva da Rede Cerrado, Ingrid Silveira, ressaltou a urgência de ampliar o debate para além da Amazônia, lembrando que biomas como o Cerrado enfrentam pressões e riscos ainda maiores.
“O Cerrado é o coração das águas do Brasil. Assim como ele pulsa vida para outros biomas, a sociobioeconomia pode ser a energia que mantém esse coração batendo”, afirmou Ingrid. Assista à fala na íntegra aqui.
Ela apresentou dados preliminares do projeto Redes Pela Conservação, que a Rede Cerrado integra junto de um consórcio, que revelam o potencial econômico de cadeias produtivas do Cerrado só em 2024:
- Baru: cerca de R$ 200 milhões
- Pequi: R$ 25 milhões
- Babaçu: R$ 10 milhões
“Esses números mostram que a sociobioeconomia é renda, conservação e dignidade”, destacou.
A criação do Prospera incluiu um amplo processo de escuta nos territórios, do qual a Rede Cerrado participou na etapa do Distrito Federal e Norte de Minas. Nos Diálogos da Sociobioeconomia, equipes percorreram regiões conversando com agroextrativistas, organizações comunitárias, lideranças e agentes de crédito.
As demandas coletadas incluíram:
- Necessidade de crédito e assistência técnica
- Gargalos em produção e comercialização
- Expectativas sobre os Núcleos de Sociobioeconomia
- Desafios de infraestrutura, logística e valorização dos produtos
Essas contribuições foram sistematizadas e enviadas ao MMA para subsidiar a construção do programa.
Ana Paula Ferrão, gestora de projetos da Rede Cerrado, reforçou a importância de visibilizar o trabalho das populações tradicionais.
“Quem está no campo e nos territórios produzindo nossos alimentos, muitas vezes sem ser visto? É preciso publicizar essa diversidade que os biomas oferecem. Sem políticas públicas e incentivos, muitos desses sabores desaparecem do nosso prato.”
A Rede Cerrado segue articulada com parlamentares, ministérios e organizações para avançar em políticas estruturantes, como a ampliação da Lei Pró-Pequi (Lei nº 15.089/2025) para uma Lei Pró-Cerrado, o incentivo à pesquisa de frutos nativos, o acesso ao crédito e o fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade.

Apresentado no Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, o Prospera detalhou sua arquitetura, metas e primeiros passos.
João Paulo Capobianco, secretário-executivo do MMA, afirmou que o “o Prospera não é um ato isolado” e sim um “mutirão pela bioeconomia, construído em parceria, para levar renda, inclusão e conservação aos territórios.”
Para Carina Pimenta, secretária Nacional de Bioeconomia do MMA, o programa representa a união de diferentes forças:
“A COP30 está mostrando o Brasil em mutirão pela bioeconomia. O Prospera é a casa desse esforço coletivo. É renda, inclusão e floresta viva andando juntas.”
Representando as populações extrativistas, Ivanildo Brilhante, do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), reforçou: “Precisamos de uma bioeconomia que respeite a diversidade e a pluralidade da natureza.”
Já Júlia Cruz, secretária de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), destacou a articulação necessária entre sociobioeconomia, inovação e mercado:
“Ao conectar inovação, financiamento, taxonomia sustentável e compras públicas, damos escala e competitividade à sociobioeconomia.”
O Prospera Sociobio nasce com o desafio e a promessa de ser uma política nacional. Seus primeiros passos na Amazônia são estratégicos, mas o chamado de lideranças como as da Rede Cerrado é claro: é hora de abarcar todos os biomas, começando pelo que pulsa no centro do país — e que já movimenta, só com três produtos, pelo menos R$ 235 milhões por ano.

* Texto por Assessoria de Comunicação da Rede Cerrado com informações do MMA.




