“O Cerrado é um dos espaços geográficos, em especial o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que está sendo impactado fortemente pela financerização das terras. Há um avanço extensivo do capital na região”, destacou Isolete Wichinieski, da Coordenação Executiva Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), durante lançamento do Caderno Conflitos do Campo Brasil 2018, que ocorreu na tarde desta sexta-feira (12), em Brasília.
O estudo revela que, no ano passado, 574 famílias foram expulsas de suas terras no Centro-Oeste, região com a maior concentração do Bioma Cerrado no Brasil, 550 somente no estado do Mato Grosso e 24 no estado do Mato Grosso do Sul, áreas de grande expansão do agronegócio e de grandes empreendimentos. Comparado com 2017, o aumento foi de 14.350%, quando foram registradas 4 expulsões. “O Cerrado é o segundo Bioma que mais sofre com os conflitos do campo, ficando atrás somente da Amazônia que é, hoje, o mais impactado”.
Ao todo, no Brasil, somente em 2018, o poder privado foi responsável pela expulsão de 2.307 famílias – um aumento de 59% em relação a 2017 – e o poder púbico por despejar 11.253.
Mais especificamente, foram 960.630 pessoas envolvidas em conflitos contra 708.520 pessoas em 2017, um aumento expressivo de 35,6%. No caso dos conflitos especificamente por terra, o aumento foi de 11%, 118.080 em 2018, contra 106.180, em 2017. Já os assassinatos tiveram uma queda substancial. Caiu de 71 em 2017, quando ocorreram 5 massacres, para 28 no ano passado.
O relatório da CPT ainda mostra que 2018 é o ano com o maior número de conflitos pela água desde 2002. No ano passado, foram registrados 276 conflitos pela água, envolvendo 73.693 famílias. O número de conflitos é 40% maior e o de famílias envolvidas, 108%.
Entre as vítimas, 85% são de comunidades tradicionais. Dos 276 casos, 235 (85,14%) atingiram camponeses de Fundo e Fecho de Pasto, Geraizeiros, Indígenas, Marisqueiras, Pescadores, Quebradeiras de Coco, Quilombolas, Ribeirinhos e Vazanteiros.
Não por acaso, estados que compõem o Cerrado, conhecido como a “caixa d’água” do Brasil, estão entre os estados que mais registraram casos de conflitos pela água. Bahia e Minas Gerais registraram 65 casos cada, envolvendo, ao todo, mais de 23 mil famílias.
As mineradoras são as responsáveis por 50,36% dos conflitos, somando 139 ocorrências, sendo 111 protagonizados por mineradoras internacionais e 28 por nacionais.
De 2009 a 2018, 1.409 mulheres sofreram algum tipo de violência, dentre elas, 13 indígenas e 8 quilombolas. Somente no ano passado, foram registrados 482 casos de violência em conflitos do campo contra mulheres.
“Pode-se dizer, com certeza, que é sobre as mulheres que recai a carga mais pesada, pois elas, ao verem destruído o local de habitação e trabalho, carregam consigo a dor e a angústia das crianças que estão sob sua responsabilidade”, diz o relatório.
Para Isolete, o retrocesso de políticas públicas voltadas para as mulheres pode agravar ainda mais este quadro. “A mulher se coloca na frente das lutas em defesa da vida e de seus territórios”, observou.