‘Prospera Sociobio’ é oportunidade para Cerrado e demais biomas brasileiros protagonizarem agenda da sociobioeconomia 
3 dez 2025
Especialistas e lideranças defendem que programa federal, lançado na COP30, deve ir além da Amazônia e apoiar cadeias produtivas já em movimento no Cerrado e em outros biomas

Frutos e sementes compõem a cesta de alimentos da sociobiodiversidade cerratense. Foto: Katarina Silva/WWF

Durante a COP30, em Belém (PA), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) lançou, em 11 de novembro, o Prospera Sociobio — programa que transforma as diretrizes do Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia (PNDBio) em ações concretas nos territórios, com foco em povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares.

“O Prospera Sociobio é resultado programático de anos de luta e de meses de trabalho árduo, com uma contribuição fundamental dos povos originários e das comunidades tradicionais para sua concepção e até para sua implementação”, explica Mayk Arruda, assessor institucional da Central do Cerrado e conselheiro da Rede Cerrado, que participou da construção do programa. 

Segundo ele, a participação dessas comunidades, protagonistas de todo o processo, é indispensável para pensar soluções para a sociobioeconomia brasileira.

Mayk Arruda, conselheiro da Rede Cerrado e assessor institucional da Central do Cerrado. Foto: Camila Araujo/Rede Cerrado 

Apesar de os primeiros recursos — uma parceria de R$ 120 milhões — estarem destinados à criação de seis Núcleos de Desenvolvimento da Sociobioeconomia na Amazônia, especialistas e representantes da sociedade civil veem o programa como uma oportunidade histórica para que a sociobioeconomia também “abrace” o Cerrado e todos os demais biomas brasileiros.

A secretária-executiva da Rede Cerrado, Ingrid Silveira, ressaltou a urgência de ampliar o debate para além da Amazônia, lembrando que biomas como o Cerrado enfrentam pressões e riscos ainda maiores.

“O Cerrado é o coração das águas do Brasil. Assim como ele pulsa vida para outros biomas, a sociobioeconomia pode ser a energia que mantém esse coração batendo”, afirmou Ingrid. Assista à fala na íntegra aqui

Ela apresentou dados preliminares do projeto Redes Pela Conservação, que a Rede Cerrado integra junto de um consórcio, que revelam o potencial econômico de cadeias produtivas do Cerrado só em 2024:

  • Baru: cerca de R$ 200 milhões
  • Pequi: R$ 25 milhões
  • Babaçu: R$ 10 milhões

“Esses números mostram que a sociobioeconomia é renda, conservação e dignidade”, destacou.

A criação do Prospera incluiu um amplo processo de escuta nos territórios, do qual a Rede Cerrado participou na etapa do Distrito Federal e Norte de Minas. Nos Diálogos da Sociobioeconomia, equipes percorreram regiões conversando com agroextrativistas, organizações comunitárias, lideranças e agentes de crédito.

As demandas coletadas incluíram:

  • Necessidade de crédito e assistência técnica
  • Gargalos em produção e comercialização
  • Expectativas sobre os Núcleos de Sociobioeconomia
  • Desafios de infraestrutura, logística e valorização dos produtos

Essas contribuições foram sistematizadas e enviadas ao MMA para subsidiar a construção do programa.

Ana Paula Ferrão, gestora de projetos da Rede Cerrado, reforçou a importância de visibilizar o trabalho das populações tradicionais.

“Quem está no campo e nos territórios produzindo nossos alimentos, muitas vezes sem ser visto? É preciso publicizar essa diversidade que os biomas oferecem. Sem políticas públicas e incentivos, muitos desses sabores desaparecem do nosso prato.”

A Rede Cerrado segue articulada com parlamentares, ministérios e organizações para avançar em políticas estruturantes, como a ampliação da Lei Pró-Pequi (Lei nº 15.089/2025) para uma Lei Pró-Cerrado, o incentivo à pesquisa de frutos nativos, o acesso ao crédito e o fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade.

Ingrid Silveira, secretária-executiva da Rede Cerrado. Foto: Rogério Cassimiro/MMA

Apresentado no Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, o Prospera detalhou sua arquitetura, metas e primeiros passos.

João Paulo Capobianco, secretário-executivo do MMA, afirmou que o “o Prospera não é um ato isolado” e sim um “mutirão pela bioeconomia, construído em parceria, para levar renda, inclusão e conservação aos territórios.”

Para Carina Pimenta, secretária Nacional de Bioeconomia do MMA, o programa representa a união de diferentes forças:

“A COP30 está mostrando o Brasil em mutirão pela bioeconomia. O Prospera é a casa desse esforço coletivo. É renda, inclusão e floresta viva andando juntas.”

Representando as populações extrativistas, Ivanildo Brilhante, do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), reforçou: “Precisamos de uma bioeconomia que respeite a diversidade e a pluralidade da natureza.”

Já Júlia Cruz, secretária de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), destacou a articulação necessária entre sociobioeconomia, inovação e mercado:

“Ao conectar inovação, financiamento, taxonomia sustentável e compras públicas, damos escala e competitividade à sociobioeconomia.”

O Prospera Sociobio nasce com o desafio e a promessa de ser uma política nacional. Seus primeiros passos na Amazônia são estratégicos, mas o chamado de lideranças como as da Rede Cerrado é claro: é hora de abarcar todos os biomas, começando pelo que pulsa no centro do país — e que já movimenta, só com três produtos, pelo menos R$ 235 milhões por ano.

Prospera Sociobio foi lançado no Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, durante a COP30, em Belém (PA). Foto: Rogério Cassimiro/MMA

* Texto por Assessoria de Comunicação da Rede Cerrado com informações do MMA.