Fundador da Rede Cerrado e liderança de povos e comunidades tradicionais, Braulino Caetano morre aos 79 anos
23 nov 2025
Grande liderança dos povos e comunidades tradicionais e um dos fundadores da Rede Cerrado, seu Braulino Caetano morreu neste domingo (23/11), aos 79 anos. Nascido na comunidade Abóboras, zona rural de Montes Claros (MG), conheceu desde cedo as mazelas de um sistema de exploração contra o qual dedicaria toda a sua vida. Trabalhou ainda menino, […]

Grande liderança dos povos e comunidades tradicionais e um dos fundadores da Rede Cerrado, seu Braulino Caetano morreu neste domingo (23/11), aos 79 anos.

Nascido na comunidade Abóboras, zona rural de Montes Claros (MG), conheceu desde cedo as mazelas de um sistema de exploração contra o qual dedicaria toda a sua vida. Trabalhou ainda menino, muitas vezes apenas em troca de um prato de comida. Inconformado com as injustiças sociais, organizou trabalhadores rurais em associações comunitárias e sindicatos, mobilizando a articulação de povos e comunidades tradicionais em defesa de direitos e da conservação do Cerrado. Essa caminhada resultou na fundação do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM).

Seu Braulino participou do processo de sistematização da Constituição Federal de 1988, esteve presente na criação da Rede Cerrado durante a ECO 92 e contribuiu para a formulação da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais, assumindo a representação dos geraizeiros na Comissão Nacional. Conviveu com Chico Mendes na missão de proteger o meio ambiente e colaborou na construção coletiva do projeto DGM Brasil, ao lado de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.

O reconhecimento de seu legado se espalhou por instituições, comunidades, órgãos públicos e universidades. Em 2019, recebeu da Unimontes o título de Doutor Honoris Causa, entre outras homenagens.

“Não teve teoria que me ensinasse mais do que sua vida inteira”, afirmou o filho, Samuel Caetano, atual presidente do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), chamando o pai de “doutor na arte de viver com a verdade”. Com o chapéu sempre à cabeça, seu Braulino nunca hesitou em se posicionar. “Onde havia luta, o senhor estava. Onde havia injustiça, o senhor firmava o pé”, acrescentou Samuel.

Para Ingrid Silveira, secretaria-executiva da Rede Cerrado, “por onde houver povos do Cerrado, haverá o eco da voz do nosso querido Braulino, guiando, inspirando, resistindo”. Ela lembrou ainda que ele seguirá “com os encantados, onde a luta vira memória sagrada e o amor vira território permanente”.

Jaime Siqueira, coordenador da Rede Cerrado e do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), destacou que Braulino foi exemplo de “luta e coragem”.

Andréia Bavaresco, coordenadora geral do IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), definiu sua morte como uma grande perda: “Ele foi uma liderança gigante da Rede Cerrado e de todos os povos do Brasil. Dedicou a vida a cuidar do território, das comunidades e do nosso Cerrado”.

Para Isabel Castro, pesquisadora no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora da Iniciativa To No Mapa, “o Cerrado e seus Povos colhem os frutos da sua luta e aqui continuamos para honrar seu trabalho”.

Mariana Terra, do Instituto Manuel da Conceição, lembrou que Braulino foi companheiro de lutas do próprio Manuel, que dá nome à instituição: “Ambos seguem guiando nossos passos e iluminando os caminhos de luta e esperança que ajudaram a construir”.

“Seu Braulino nos ensinou que cuidar do Cerrado é também cuidar das pessoas, do território, da memória, das águas e da esperança. Sua voz firme e generosa seguirá ecoando em cada luta, em cada território protegido, em cada semente nativa que germinar”, disse Mônica Debuche de Paiva, que trabalhou ao lado de Braulino no CAA-NM entre 2018 e 2021.

Cesar de Espírito Santo foi superintendente executivo da Funatura por quase 30 anos, período em que conviveu com o Braulino. “Aprendi muito com ele, pessoa de grande valor, que conheci na luta em defesa do Cerrado e sempre tive imenso respeito.”

Braulino Caetano (1950–2025), presente sempre.